Petróleo Abrolhos
A história geológica de Abrolhos
Em tempos de mudanças climáticas globais, entender a história evolutiva de determinada planície costeira da Terra pode gerar uma ferramenta ambiental essencial para o futuro. Ainda mais se ela contém populações humanas, recifes de corais e uma alta biodiversidade marinha.
Com base nesse pensamento, um grupo de cientistas brasileiros, liderado por Ana Andrade, do Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus (BA), resolveu investigar o comportamento geológico da planície costeira de Caravelas, localizada no sul da Bahia, entre os rios Mucuri (ao sul) e Jequitinhonha (ao norte).
Os pesquisadores se detiveram no Período Quaternário, que, segundo a Escala do Tempo Geológico começou há 1,6 milhões de anos e dura até os dias atuais. O estudo Quaternary evolution of the Caravelas strandplain – Southern Bahia State – Brazil está publicado na edição corrente dos Anais da Academia Brasileira de Ciências, que pode ser consultado no endereço eletrônico http://www.scielo.br.
No caso específico do processo evolutivo de formação dos corais do sul da Bahia - Abrolhos, que está inserido na área de estudo, é considerado o maior e mais rico complexo coralino do Oceano Atlântico Sul –, quatro grandes fases evolutivas foram identificadas. O estudo coletou amostras de terrenos antigos no coral Coroa Vermelha, que fica próximo a Abrolhos.
O estabelecimento inicial dos corais no Sul da Bahia ocorreu há 7,7 mil anos. Naquele período, o nível do mar estava mais alto do que o atual. Os recifes de corais cresciam 1,5 milímetros por ano. A fase de grande crescimento das formações coralinas ocorreu quando o nível do mar regredia, mas ainda estava acima do que está hoje. Há 4,4 mil anos, aproximadamente, os corais baianos cresciam na ordem de 5,5 milímetros ao ano.
O terceiro estágio de evolução foi marcado por dois pontos de inflexão. O nível do mar se aproximou ao atual e os corais pararam de crescer na vertical. Junto com José Dominguez e Louis Martin, da Universidade Federal da Bahia, que também assinam o trabalho, Ana identificou um outro tipo de crescimento. Há 1,5 mil anos, aproximadamente, os corais do Nordeste do Brasil começaram a crescer para as laterais. Os testemunhos geológicos corroboram com bastante precisão esta informação. O trabalho atual parte de descobertas feitas pelos pesquisadores Zelinda Leão e Ruy Kikuchi, que também estudaram a geologia da região.
Prova de que o entendimento da geologia costeira de Caravelas é importante para os dias de hoje - e para o futuro - está no quarto estágio de evolução identificado pelos pesquisadores. Nos últimos 1,5 mil anos começaram a aparecer sinais de degradação dos corais, que se estendem até o presente. Não é difícil cruzar as linhas de evolução da geologia local com a da evolução humana, para entender uma das causas do problema.
4/9/2003
Por Eduardo Geraque
Agência FAPESP
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